quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

"Eu lembro de cerrar os punhos pra dizer" : Um relato óbvio sobre o carnaval...

Poucas pessoas de fato sabem que o carnaval não é uma festa tipicamente brasileira, e sim é originada através de festanças ocorridas em Portugal, nossos colonizadores. O Brasil apropriou-se do carnaval e o tornou cada vez mais “Abrasileirado” desde o século XVII, período em que são datados os primeiros carnavais em nosso país. Nesta época, pelo que li e apurei, os carnavais ainda eram elitizados e por vezes completamente inspirados nas festas carnavalescas que ocorriam no continente europeu.

Os carnavais europeus eram desfiles mascarados e urbanos, incluindo os folclóricos e já incorporados personagens que conhecemos, como o Rei Momo. No Brasil, os blocos e trios surgiram com o fim de agrupar pessoas, que por vezes possuíam fantasias parecidas e eram acompanhadas por marchinhas, estas que se reproduzem aos montes e caracterizam carnavais por nosso país, trazendo um ar de heterogeneidade entre as festas que ocorrem em regiões fora do eixo central de nosso país.




Lendo o livro “Almanaque do Carnaval - A História do Carnaval, o que Ouvir, o que Ler, Onde Curtir”, percebi realmente que até o fim da década de 1970 o carnaval era caracterizado como uma festa democrática e popular, afinal, bastava ter o gosto pelo samba para “Curtir” a festa, por vezes as pessoas desfilavam e montavam seus blocos sem um devido compromisso, somente se importavam com a diversão, contudo, como André Diniz aponta, autor do livro, após o início da cobertura televisiva o carnaval em grandes centros passou a ser mera competição ou ferramenta promocional de celebridades.

O Autor aponta que os custos e investimentos de escolas e agremiações passaram a extinguir as chances de cidadãos comuns participarem de desfiles, imensos locais começaram a ser reservados para os desfiles, que se tornou em suma um imenso “Torneio”, sendo que apurações começaram a serem verdadeiras guerras, que por vezes mais envolviam o ego de comandantes de escolas que o desejo de uma comunidade pela vitória.

André Diniz salienta que a partir dos anos 90 a entrada das grandes cervejarias foi preponderante para elitizar as festanças carnavalescas em grandes centros, os camarotes em passarelas começaram a se multiplicar e o povo começou a ser tratado como massa consumidora, invertendo o papel de outrora. Grandes marcas promovem seus produtos à custa de personalidades, que visitam o Rio e São Paulo com o intuito de lucrar e não de conhecer a “Festa tipicamente brasileira” que hoje exclui mais do que diverte.



O panorama atual do carnaval

Nos dias de hoje o carnaval move muito capital, e capital público! Algumas escolas do Rio de Janeiro recebem quase 5 milhões do governo para organizarem seus desfiles, além de todo o dinheiro que advém de seus milionários patrocinadores, cervejarias disputam a tapas a exclusividade de distribuição de bebidas nessas festas, bem como seus camarotes. Podemos adiantar que pelo menos 35 milhões de reais (dados de 2013) de dinheiro público passam pela Marquês de Sapucaí em dois dias de desfiles do grupo especial, se há dúvidas sobre a veracidade de tais dados, clique aqui!

A maioria dos brasileiros é crítica ao carnaval, aponta que a festança é elitizada e constata que nem todos os habitantes de nosso país realmente podem usufruir deste período de feriados e festas. Aos poucos também vemos que pessoas aproveitam o feriado prolongado para efetuar planos de viagens e descansar em locais menos movimentados e que por vezes são esquecidos nessa época do ano.

Outro ponto interessante da discussão são os gastos e o retorno dado pelo carnaval, afinal, sabemos que são milhões gastos para um ou dois desfiles, e que provavelmente tudo após um tempo é desmontado e descartado, em uma suposição lógica aponto que o carnaval nada mais é do que queimar dinheiro de maneira irresponsável.



Comunidades pobres, tais como onde existe a escola Mangueira, no Rio de Janeiro, são espremidas e juntam montes de dinheiro para financiar algo que jamais dará retorno à escola, por mais encantadores que sejam os desfiles não darão empregos o ano todo e tampouco estudos ou possibilidades de ascensão social a algum cidadão da comunidade.

Os 35 milhões gastos no Rio de Janeiro em 2013 com certeza financiariam a educação de muitos, bem como a formação técnica ou superior de outros tantos, sem falar em melhorias em saúde e segurança pública, além de remunerar de maneira justa profissionais que realmente constroem uma sociedade.

O Carnaval dos dias atuais na verdade se reserva a grandes centros, ou pontos esporádicos em determinadas regiões, e nos traz sempre a incerteza, primordialmente para pais e mães que ao deixarem seus filhos irem para festas não sabem se os mesmo acabarão retornando, afinal, é constatado que temos um número exacerbado de crimes, acidentes e índices de violência bem altos nessa época.



A imagem do Brasil acaba sendo distorcida e desprivilegiada em todo o planeta, que de fato acaba nos conhecendo por alcunhas famigeradas e tremendamente enganosas, tais como: “O país da bunda”, do “carnaval” e do “Futebol”. E quem lucra com isso? Determinada elite que trata os brasileiros como fantoches e meros coadjuvantes de sua própria história.

Por fim, saliento que de maneira alguma condeno o carnaval vanguardista e democrático, que jamais conheci, mas que através de depoimentos e leituras acabei compreendendo o funcionamento. Mas, diante de tudo o que vejo e leio sobre esta “festa tipicamente brasileira” reitero minha opinião, o carnaval deveria ser extinto, chega de sermos emburrecidos!

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